sexta-feira, 28 de março de 2008

Dodô e Bete

Dolores e Elizabete, também conhecidas como Dodô e Bete. Duas amigas de infância que, nessas indas e vindas da vida, perderam contato quando se casaram. Ambas, entretanto, se encontram divorciadas. E se encontram num barzinho, desses de BH, pra "botar as fofocas em dia" (como diria Bete) e para "bordar um papo bordado" (como diria Dodô). O reencontro é delicioso.

D: Menina, mas como você tá linda!
Beijo de um lado, beijo do outro lado, sem o terceiro pra casar - casamento? Necas.
B: E você, hein? Que cabelo lindo!
D: Você quer uma bebida?

As duas bordam as fofocas. Sobre a velha turma. Sobre as casadinhas. Sobre as divorciadas. Sobre o ex-marido de Bete (Bete acenderia alguns cigarros durante o tema). Sobre o ex-marido de Dodô. Sobre a manicure Dinízia, que morreu atropelada na Catalão ("Que desastre", diria Bete). Entre alguns copos de cerveja e entre alguns cigarros, um homem novo - vinte e poucos anos talvez? - se aproxima da mesa. Tampa os olhos de Dodô (que, no momento, comentava sobre um sex shop da Contorno). Bete observa, um sorriso meio trêmulo, sem saber direito o que fazer. Dodô sorri e pergunta: "Neném?". Bete trava. "Neném" tira as mãos dos olhos de Dodô.

D: Betinha, deixa te apresentar. Esse aqui é Maurício...
(Maurício contorna a mesa e dá dois beijos em Bete, um em cada lado, sem o terceiro pra casar - casamento? Necas. Bete sente o cheiro de sua fragância masculina. Bete fica excitada. Maurício contorna a mesa e senta ao lado de Dodô).
D: ...meu namorado.
(Bete pensa: "MEU NAMORADO?!").
B: Muito... muito bonito, Dodô!
(Maurício dá um sorriso encabulado e um beijo estalado na bochecha de Dodô)
D: Estamos juntos a alguns meses. Nada muito longo, uns dois só, né Neném?
M: Dois meses e três semanas.
B: Mas... mas que maravilha, Dodô! Fico... eu fico muito f-feliz, de verdade, por vocês dois.
(Maurício e Dodô abrem sorrisos de orelha a orelha. Dodô faz carinhos na mão de Maurício. Maurício pede ao garçom uma dose de whisky. Bete pede a Deus que o mundo acabe.)
B: E, hm, onde vocês se conheceram?
M: Numa boate. Eu trabalho como Go Go Boy.
B: Ah.. sim.
M: Se as senhoritas me dão licença, vou ao banheiro. Dá um beijinho no Neném, Dodô?
(Dodô beija Maurício como se fosse uma adolescente ninfomaníaca, e não uma mulher divorciada de 46 anos. Bete manda Deus e o mundo à merda. Maurício se levanta.)

D: Maurício e eu estamos morando juntos.
B: Poxa... que maravilha.
D: Sim, por isso que não quis te chamar no apê... queria fazer uma surpresinha, entende?
(Betinha pensa: "E que surpresa, sua filha da puta!".)
B: Hahaha, realmente uma surpresa, Dodô. Achei que você, sei lá, estava odiando todos os homens por aí...
(...como eu estou fazendo, pensa Bete.)
D: Ah, eu tive essa fase sim. Mas aí vi que era o mesmo que ser uma corna mansa (Betinha engasga com a cerveja), e resolvi ir à caça.
B: Hehe.
D (abaixando a voz, como se confidenciasse um segredo): Nós transamos em todos os cômodos do apê na nossa primeira semana juntos, Betinha.
B: Caramba!
D: E já transamos na escadaria e no elevador também.
B: ...isso é que é saúde (sorrindo amarelo).
D: E também fizemos no...
B (interrompendo Dodô): Ele tá vindo.
(Maurício senta na mesa)
M: Não interrompi o assunto, interrompi?
B: (pensando) Que sorriso. Que olhos. Que músculos. Dolores filha de uma puta.
D: Claro que não, amor, estávamos falando sobre nossas transas.
(Bete engasga com a cerveja. De novo.)
D: Ela é que é a amiga que eu comentei que tá sozinha, Neném.
B: (SUA DESGRAÇADA, COMO CONSEGUE ME HUMILHAR ASSIM NA FRENTE DESSE HOMEM?!)
B: Bem, não é bem assim... (diz sem graça, o rosto completamente vermelho) Na verdade, estou só solteira. Saio com uns caras de vez em quando, sabe?
D: (dando um tapinha amigável nas mãos de Bete, que agarram o copo furiosamente) Sua safada!
M: Eu conheço um sujeito boa pinta que tá querendo um relacionamento, Betinha.
B: É... é mesmo? Hehehe.
M: Sim, um pouco mais velho que eu, trabalha na boate.
B: Poxa, que legal...
M: Vocês poderiam sair algumas vezes.
D: Betinha me disse que não faz sexo já tem um ano, amoreco.
B: (O QUÊêÊÊêêêêêêêeêêÊEÊ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
D: E Betinha, ouvi dizer que ele deixa qualquer mulher louca entre quatro paredes.
B: Hehe. (bebendo a cerveja furiosamente, entornando o copo)
B: Bom, eu...
D: Amor, por que você não liga pro Ricardo? Ricardo é ele, Betinha. Diz pra ele vir pra cá.
B: (se levantando desesperada da cadeira) Não, não precisa não, eu...
D: Amiga, você tá bem?
B: Eu... eu... NÃO, EU TÔ PÉSSIMA! EU TENHO QUE CORRER!
M: Calma, Bete, o que aconteceu?
B: EU DEIXEI O GÁS LIGADO! MINHA CASA! MINHA CASA VAI EXPLODIR! ADEUS!

Bete sai correndo desesperada enquanto Dodô e Maurício olham a cena ridícula.

Bete pega um táxi, pede ao motorista permissão pra fumar e, durante o caminho, diz:
B: Que cena ridícula...
Taxista: Posso ajudar, dona?
B: Hm, bem... bem... (dá uma boa olhada no taxista) Você quer uma bebida?

quarta-feira, 12 de março de 2008

Passarinho

Minha mãe acabou de me contar um caso que me fez chorar.

Aos que não sabem, meu pai morreu em 1999 (eu tinha 9 anos de idade). Não digo isso porque era meu pai, pois só fui conhecê-lo de verdade depois que ele morreu, mas ele era um homem muito bom, muito digno, e desde criança sempre foi apaixonado com passarinhos. Papai tinha uma vida de cigano, morou em não-sei-quantos lugares (e, por isso, eu vivi muito pouco com ele, pois ele sempre estava morando fora), e sempre gostou de coisas que mamãe não gostava tanto. Exemplos importantes: música sertaneja das antigas (nada de Chitãozinho e Xororó, coisa antiga MESMO) e tomar um golinho de cachaça antes do almoço. Pois foi papai morrer, mamãe começou a ter as mesmas manias (e gostar de futebol, mas isso não é importante aqui agora =p).

Ontem, enquanto eu estava na escola, mamãe tava aqui em casa fazendo o almoço e ouvindo uma rádio daqui de BH que só toca música sertaneja. De 11 ao meio-dia, essa rádio toca só aquelas músicas sertanejas realmente antigas, as que papai gostava, e ontem mamãe ficou ouvindo. Até aí, tudo bem.

Eis que, quando uma música acabou e outra começou, um passarinho pousou na antena do prédio do lado aqui de casa (um prédio baixinho, dá pra ver a antena da janela da cozinha). O passarinho ficou olhando pra dentro da cozinha, observando mesmo, mexendo a cabecinha e tudo. E assoviou umas 3 vezes durante a música. Mamãe foi pra perto da janela e os dois ficaram se olhando enquanto a música tocava. E o passarinho só olhando pra cá. E aí, quando a música terminou, o passarinho foi embora.

Não acho que papai era o passarinho, não acho que a alma dele estava lá dentro, não acho nada disso. Mas, que nem mamãe disse, quando Deus quer se comunicar com a gente, ele coloca anjos na nossa vida: não anjos com asinhas brincando em nuvens, mas pessoas, animais, até mesmo objetos (tipo quando a gente acha O Livro que muda a nossa vida, nosso estado de espírito).

O que eu sei é que tem detalhes maravilhosos lá fora que querem ser vistos, só depende de nós. Então, é. Não de verdade, mas papai era o passarinho.