sexta-feira, 24 de julho de 2009

Crônica da Casa Assassinada (II)

"(...) Apesar de tudo, é necessário que alguém, ainda que este alguém seja eu, ponha-o em guarda contra sua própria credulidade. Morremos quase sempre da crueldade ignorada dos seres que nos cercam. Ah, se eu conseguisse trazer à sua memória a lembrança de alguns fatos... de algumas situações antigas... os primeiros tempos... a vida no Pavilhão. Aquele dia, Valdo, na escada cheia de folhas mortas, quando você me abraçou, dizendo: "Nunca, Nina, nunca nos separaremos neste mundo!" E nos separamos, cada dia que se passa achamo-nos mais distantes um do outro. Naquele momento, porém, parecia ser verdade, o ar estava impregnado de jasmim, e todo o mundo vegetal que nos cercava como que aludia à nossa causa, e jurava pela sua viva permanência. Mas que sortilégio pôde ter surgido, como tudo se transformou assim de repente? Que me aconteceu, que aconteceu ao nosso amor? Então não há nada certo, geramos apenas o esquecimento e a distância? As palavras, meu Deus, não significam coisa alguma, não têm poder para selar nenhum juramento? Quem somos nós que assim passamos como espuma, e nada deixamos do que construímos, senão um punhado de cinza e de sombra? Debato-me, o coração me vem aos lábios: que é válido, que é invulnerável à fúria do tempo, qual o sentimento que não se esgota e não se ultraja?

Repiso em vão essas teclas todas. Sinto-o mudo, difícil, o olhar desviado para longe. O longe é a imagem do nosso cansaço. Ali, onde nunca entrará nenhum vislumbre da minha pessoa, nem a projeção de um gesto meu, nem o eco de nenhuma das minhas palavras, ali você se refugiará com a sua certeza, e cavará minha sepultura com mãos desfiguradas e sem alma. Estou definitivamente morta para você, uma lápide imensa, sem forma, nos afasta para sempre um do outro. Ah, e isto é o que me abala e me consome. Imaginá-lo assim distanciado, sem um olhar de piedade para aquilo que nos constituiu. Imaginá-lo no seu silêncio, completamente esquecido do que me jurou e prometeu, e me sentir como se eu fosse apenas um nome, soprado há muito na vastidão de um jardim que não existe mais. Um nome, como uma pétala que cai (...)."

Primeira carta de Nina a Valdo Meneses;
Crônica da Casa Assassinada - Lúcio Cardoso

terça-feira, 21 de julho de 2009

Brilho

E ela não sabia que seu olhar guardava um brilho, desses que a gente só percebe que tem quando olha no olho do outro e encontra aquilo, aquilo que ninguém sabe o que é, talvez um holofote de felicidade, talvez uma nebulosa desconhecida, talvez as luzes do Natal mais belo, mas a verdade é que o seu olhar guardava um brilho que piscava e piscava sem se apagar.

A verdade é que ela caía num abismo feito (e cheio) de luz.



(trecho)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Crônica da Casa Assassinada

"(...) Bem se via que a morte não era uma brincadeira, que o ser estabelecido originalmente, e toscamente modelado em barro pelas mãos de Deus, ali irrompia de todos os disfarces, para se instalar onipotente em sua essência mais verídica. Bem se via também que tudo se achava definitivamente dito entre nós. Inúteis as palavras que haviam sobrado, os afagos que não haviam sido feitos, as flores com que ainda pudéssemos adorná-la. Libertada, repousava em sua pureza final. Ah, e inútil também tudo o que não fosse fúria e submissão. Sem resposta, como se nós, criaturas, nada mais merecêssemos senão o luto e a injustiça, tudo terminava ali. E o que existira não passara de um sonho, de uma magnífica e passageira ilusão dos meus sentidos. Nada conseguiria mais romper o duro peso que se acumulava sobre meu coração, e diante daquela ruína, já tocada pela corrupção, eu custava a reconhecer aquela que fora o objeto do meu amor, e nenhuma lágrima, nem mesmo de piedade, subia-me aos olhos.

Tão sem pressa quanto suspendera a ponta do lençol, inclinei-me e beijei o rosto daquela mulher - como já o fizera tantas e tantas vezes - mas sentindo que desta vez era inútil, e que eu já não a conhecia mais."

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Continuo esperando


66 anos hoje, 10 anos amanhã.
Eu amo você.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

G

Se a Paula falasse comigo, diria que é quente, macio e intenso,



mas não é só ela que pensa assim

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Vem

Vem,

que aqui dentro há um coração que espera,
que o meu abraço é quente sim,
que a ansiedade me embrulha o estômago,
que tem amor e alegria sobrando por aqui,
que tem aconchego até dizer chega (eu chego),
que tem até paz pra dormir,
que a minha voz vai ser calma pra não te acordar,
e que quando você quiser sair eu te dou um sorriso e um afago
pra te levar bem aonde quer que você queira ir,
que aqui cabe tudo...
...os seus medos, os seus lamentos e a infinidade de coisas que você não sabe,
que tem muita coisa ainda pra você aprender,
que eu vou ficar esperando com um cobertor e um beijo estalado,
que o tempo vai mas também vem,

mas vem.

sábado, 4 de julho de 2009

Reciclagem

Meus cortes são conta-gotas e o meu sangue pode não ser nobre,
Minhas lágrimas são rios e estão sujas de cores mil,
Meu sorriso vai bem tímido só que eu juro que é sincero,
Mas o que fica do meu sangue,
das minhas lágrimas
e do meu sorriso

Já nem sei mais

Pra que desperdiçar?

Vai

I'm leaving
I'm leaving
Look at me
Oh just look at me
Do you see
I'm leaving
Yes I'm leaving
I told you I was leaving
I am leaving
You
My clothes
My hopes
My dreams
Everything that seems
...that I'm still here
But I'm leaving
Yes I'm leaving
I'm leaving
I'm leaving

And now I left

I'm living