domingo, 7 de dezembro de 2008

Free as a bird

Sou passarinho,
só vivo da natureza
tenho penas, cores e sei voar

canto baixinho
existo na esperteza
e não tenho casa pra habitar.

mas se quiser me encontrar,
procure nas árvores
nas ruas e nos céus

eu moro na liberdade das minhas asas.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A primeira vez que eu disse adeus

Na primeira vez que eu disse adeus, não chorei. Acho que as palavras não tinham feito sentido de verdade pra mim. Também não olhei pra trás, e se tivesse olhado, não teria visto nada mais do que uma pessoa com os olhos marejados. Isso, pra mim, não teria sido novidade. Emoções... nunca, nunca eram novidade.

Me pergunto qual seria o sentido do meu adeus. Disse como um "até nunca mais"? Disse como um "tchau", um "até logo"? Acho que sim. Hoje não faz mais diferença, pelo menos não enquanto me sento aqui e escrevo uma ou outra palavra, talvez de conforto, talvez de memória, talvez de distância.

Se eu pudesse voltar no tempo, não teria dito adeus.
Teria saído correndo!

Direto e abstrato

— Você fala cheio de rodeios, nunca é direto. Parece que tem medo que te conheçam de verdade...
— Eu sei.
— Mas não faz sentido. É quase como usar uma máscara, mas pra quê? Você é sempre tão... sabe, tão enigmático.
— Sim.
— Eu te vejo como se você quisesse que te desvendassem. Mas parece que, se alguém chega perto disso, de te descobrir de verdade, você não gosta.
— É...
— E você é sempre direto nas suas perguntas, mas quando vai responder alguma coisa, você nunca é exato. Você é sempre tão abstrato.
— Sim.
— Mas agora você não está sendo. Por quê?
— Por que você diz isso?
— Porque você tem respondido só "sim"...
— E você acha que não tem nada de enigmático e abstrato num único sim?
— Bem... não. É uma resposta direta, exata.
— Nunca é. Cabe um mundo inteiro dentro de cada mínima palavra, e o "sim" e o "não" têm mais significados do que você pensa. E, dependendo da pessoa, há muito menos num "sim" e muito mais num "não".
— ...você sabe que eu te acho muito estranho, né?
— Sim.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Contar

Eu quis te contar dos medos que explodiam lá fora,
porque Deus sabe como o mundo é frágil
e fragilidade é coisa só de gente,
gente mínima, gente ínfima,
que vive dia após dia
contando os medos que explodem aqui dentro.

Eu quis te contar das flores e das árvores,
da grama molhada também
porque natureza é uma coisa que se perde
assim como alguns valores da gente,
e cedo ou tarde surge a falta
de ver e sorrir flor.

Eu quis te contar de nuvens,
suas cores e formatos e sonhos
mas nuvem é um negócio complicado,
muda toda hora, lá em cima, lá longe
e eu estaria muito ocupada
...observando.

Eu quis te contar da lágrima tímida,
quase que não escorrega no rosto,
porque cê sabe
fragilidade é coisa nossa,
coisa de gente que vê nuvem,
vê árvore,
vê gente,
vê demais

mas não conta.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Retorno

Amigo,
Olhe para o chão
Depois olhe para a frente
Não desvie do caminho
Não esqueça da sua alma.
Cabeça erguida,
Pés firmes,
Braços fortes,
Coração leve.
(...faça um pedido para a estrela que já se foi...)

Avante!


A esperança ainda existe
E você ainda existe aí dentro!

sábado, 18 de outubro de 2008

Assalto

Me roubaram as estrelas que criei para outra pessoa brilhar. Me roubaram as minhas mãos carinhosas e bem-cuidadas, sempre prontas para afagar. Me roubaram a paciência que eu mesma criei, e que tanto demorou pra ficar pronta (paciência...). Me roubaram grande parte dos meus sorrisos mais sinceros. Como era de se esperar, roubaram também o meu dinheiro, que eu julgava tão bem aplicado. Meu tempo, então, levaram sem pestanejar nem meia vez. Me roubaram abraços, beijos e, que irônico seria se não acontecesse!, me roubaram amor.

Mas de tudo que levaram, a coisa que mais sinto falta é única, insubstituível.

Me roubaram de mim.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Geração

Não criamos esperanças,
não esperamos criações,
somos o futuro da nação.

Não fazemos boa notícia,
não noticiamos boas ações,
somos o futuro da nação.

Não sabemos o que queremos,
não queremos o que já sabemos,
somos o futuro da nação.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Devolução

Quero de volta o meu sorriso,
o meu jeito terno de olhar o tempo,
a minha impulsividade nem tão desastrosa assim,
a confiança que eu tinha no mundo.
Quero de volta o meu jeito infantil de rir da vida,
a forma de observar a tarde passando cheia de tédio,
as minhas piadas bobas,
o meu tango.

Pode tratar de me devolver (o mais rápido possível)
as imagens que eu pintei, as frases que eu disse,
o carinho que eu tanto dei, a dedicação intensa,
os versos que eu fiz, e até os que eu não entreguei,
os meus sonhos
e os meus pesadelos também.

Você arranje logo um jeito de me entregar
todos os segundos que perdi declarando meu amor,
as horas no telefone pra ouvir a sua voz,
e as vidas que perdi pensando em você;
devolve também as lágrimas
(já que eu sou tão seca)
e os beijos,
batom.

Vê se me devolve tudo, que eu preciso de verdade
do meu sangue,
da minha saliva,
das minhas células,
devolve até a minha dor
...por favor.

E já que eu nunca fui inteira,
completa,
perfeita,
faz o favor de me trazer
aquela parte que você arrancou de mim.



Eu tenho certeza de que ela é mais importante pra mim do que pra você.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Google

A gente procura
 achar o branco no preto,
 ou mesmo o preto no branco,
 achar explicação pro que a gente sabe
 que já... não tem,
 perdão pro seu defeito
 e cura pra solidão,
 achar o sim no não,
 achar o sim no talvez,
 achar o sim até no "sim",
 o que já não existe,
 o que nunca existiu,
 a resposta das coisas tolas
(...que, apesar disso, a gente ainda tentou descomplicar...),
 as cores infinitas - tão desbotadas,
 a compreensão até
na dor.

A gente procura
 achar o tudo no vazio,
 e o que a gente encontra
 é que querer e poder
 já não são o mesmo que
 acreditar.

A gente procura,
 e não acha mais nada.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Rua

As pernas e os passos
E as longas passadas,
Passagens
Bicicletas não vi mais
E os carros buzinando
Lançando a fumaça no ar
Também o abre-e-fecha
 de portas e
 de janelas e
 de armários e
 de mentes e
O pinga-pinga das torneiras
Os zumbidos selvagens das motos
Os ônibus
 (...entra gente, sai gente...)
 grandes, donos da rua
A loucura do tráfego
A correria do minuto,
 já?
A impaciência deles
A pressa delas
O tic-tac desesperado dos
 relógios sem razão

E você, do outro lado da rua,
 sorrindo.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Da observação

Queria eu poder enxergar tão bem como os outros. Eu apenas observo, não vejo nada, fico nesse meu marasmo... só olhando.
E depois de olhar tanto, percebi que em terra de cego, quem tem um olho ainda é caolho.

Acho que não aprendi a piscar.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Explicações

Te amo porque te amo,
E porque te amo, me ilumino
E porque me ilumino, me acho
E porque me acho, te descubro
E porque te descubro, te amo.

Te amo porque te amo,
E porque te amo, me completo
E porque me completo, eu vivo
E porque eu vivo, eu sinto
E porque eu sinto, te amo.

Te amo porque te amo,
E porque te amo, eu vejo
E porque eu vejo, eu entendo
E porque eu entendo, eu creio
E porque eu creio, te amo.

Te amo porque te amo,
E porque te amo, eu vôo
E porque eu vôo, me solto
E porque me solto, eu volto
E porque eu volto, te amo.

Te amo porque te amo,
E se não te amasse, não voaria
E se não te amasse, não sentiria
E se não te amasse, não saberia
Que te amo porque te amo,

E isso já explica tudo.

domingo, 18 de maio de 2008

What do you see?

- So, when you look at me, what do you see?
- I see you.
- And what do you see?
- What do you mean?
- You're just looking. But what do you see?
- I see you.
- You're wrong.
- Why?
- Because you're just looking.

domingo, 11 de maio de 2008

Frio

— Tá frio aqui dentro...
— Vou fechar a janela pra você.
— ...não era disso que eu tava falando. Mas obrigada, de qualquer forma.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Eu tenho um sonho preso no meu quarto

Eu tenho um sonho preso no meu quarto.

De todos os meus sonhos exalados quando acordo, existe um sonho que resolveu se prender ao teto. Olho para ele como quem pergunta "Vai ficar aí?". Ele me retribui o olhar, dizendo que vai ficar enquanto eu não voltar pra cama.

Eu espero o tal sonho cair de volta pro travesseiro. Ele me olha como quem suplica algo. Eu digo que agora não. Agora não, eu tenho muita coisa pra fazer, eu tenho algumas coisas pra ler, preciso estudar alguns resumos, preciso arrumar meu quarto, preciso telefonar pra não-sei-quem, agora não dá não, sonho. Quem sabe daqui um tempo, talvez de noite, quando for a hora certa de dormir... quem sabe depois. Mas agora não, sonho.

Mas ele sorri. Aquele sorriso que só sonho tem, um sorriso que parece contorno de nuvem.
E eu entendo... não existe hora pra sonhar.

:)

sexta-feira, 28 de março de 2008

Dodô e Bete

Dolores e Elizabete, também conhecidas como Dodô e Bete. Duas amigas de infância que, nessas indas e vindas da vida, perderam contato quando se casaram. Ambas, entretanto, se encontram divorciadas. E se encontram num barzinho, desses de BH, pra "botar as fofocas em dia" (como diria Bete) e para "bordar um papo bordado" (como diria Dodô). O reencontro é delicioso.

D: Menina, mas como você tá linda!
Beijo de um lado, beijo do outro lado, sem o terceiro pra casar - casamento? Necas.
B: E você, hein? Que cabelo lindo!
D: Você quer uma bebida?

As duas bordam as fofocas. Sobre a velha turma. Sobre as casadinhas. Sobre as divorciadas. Sobre o ex-marido de Bete (Bete acenderia alguns cigarros durante o tema). Sobre o ex-marido de Dodô. Sobre a manicure Dinízia, que morreu atropelada na Catalão ("Que desastre", diria Bete). Entre alguns copos de cerveja e entre alguns cigarros, um homem novo - vinte e poucos anos talvez? - se aproxima da mesa. Tampa os olhos de Dodô (que, no momento, comentava sobre um sex shop da Contorno). Bete observa, um sorriso meio trêmulo, sem saber direito o que fazer. Dodô sorri e pergunta: "Neném?". Bete trava. "Neném" tira as mãos dos olhos de Dodô.

D: Betinha, deixa te apresentar. Esse aqui é Maurício...
(Maurício contorna a mesa e dá dois beijos em Bete, um em cada lado, sem o terceiro pra casar - casamento? Necas. Bete sente o cheiro de sua fragância masculina. Bete fica excitada. Maurício contorna a mesa e senta ao lado de Dodô).
D: ...meu namorado.
(Bete pensa: "MEU NAMORADO?!").
B: Muito... muito bonito, Dodô!
(Maurício dá um sorriso encabulado e um beijo estalado na bochecha de Dodô)
D: Estamos juntos a alguns meses. Nada muito longo, uns dois só, né Neném?
M: Dois meses e três semanas.
B: Mas... mas que maravilha, Dodô! Fico... eu fico muito f-feliz, de verdade, por vocês dois.
(Maurício e Dodô abrem sorrisos de orelha a orelha. Dodô faz carinhos na mão de Maurício. Maurício pede ao garçom uma dose de whisky. Bete pede a Deus que o mundo acabe.)
B: E, hm, onde vocês se conheceram?
M: Numa boate. Eu trabalho como Go Go Boy.
B: Ah.. sim.
M: Se as senhoritas me dão licença, vou ao banheiro. Dá um beijinho no Neném, Dodô?
(Dodô beija Maurício como se fosse uma adolescente ninfomaníaca, e não uma mulher divorciada de 46 anos. Bete manda Deus e o mundo à merda. Maurício se levanta.)

D: Maurício e eu estamos morando juntos.
B: Poxa... que maravilha.
D: Sim, por isso que não quis te chamar no apê... queria fazer uma surpresinha, entende?
(Betinha pensa: "E que surpresa, sua filha da puta!".)
B: Hahaha, realmente uma surpresa, Dodô. Achei que você, sei lá, estava odiando todos os homens por aí...
(...como eu estou fazendo, pensa Bete.)
D: Ah, eu tive essa fase sim. Mas aí vi que era o mesmo que ser uma corna mansa (Betinha engasga com a cerveja), e resolvi ir à caça.
B: Hehe.
D (abaixando a voz, como se confidenciasse um segredo): Nós transamos em todos os cômodos do apê na nossa primeira semana juntos, Betinha.
B: Caramba!
D: E já transamos na escadaria e no elevador também.
B: ...isso é que é saúde (sorrindo amarelo).
D: E também fizemos no...
B (interrompendo Dodô): Ele tá vindo.
(Maurício senta na mesa)
M: Não interrompi o assunto, interrompi?
B: (pensando) Que sorriso. Que olhos. Que músculos. Dolores filha de uma puta.
D: Claro que não, amor, estávamos falando sobre nossas transas.
(Bete engasga com a cerveja. De novo.)
D: Ela é que é a amiga que eu comentei que tá sozinha, Neném.
B: (SUA DESGRAÇADA, COMO CONSEGUE ME HUMILHAR ASSIM NA FRENTE DESSE HOMEM?!)
B: Bem, não é bem assim... (diz sem graça, o rosto completamente vermelho) Na verdade, estou só solteira. Saio com uns caras de vez em quando, sabe?
D: (dando um tapinha amigável nas mãos de Bete, que agarram o copo furiosamente) Sua safada!
M: Eu conheço um sujeito boa pinta que tá querendo um relacionamento, Betinha.
B: É... é mesmo? Hehehe.
M: Sim, um pouco mais velho que eu, trabalha na boate.
B: Poxa, que legal...
M: Vocês poderiam sair algumas vezes.
D: Betinha me disse que não faz sexo já tem um ano, amoreco.
B: (O QUÊêÊÊêêêêêêêeêêÊEÊ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
D: E Betinha, ouvi dizer que ele deixa qualquer mulher louca entre quatro paredes.
B: Hehe. (bebendo a cerveja furiosamente, entornando o copo)
B: Bom, eu...
D: Amor, por que você não liga pro Ricardo? Ricardo é ele, Betinha. Diz pra ele vir pra cá.
B: (se levantando desesperada da cadeira) Não, não precisa não, eu...
D: Amiga, você tá bem?
B: Eu... eu... NÃO, EU TÔ PÉSSIMA! EU TENHO QUE CORRER!
M: Calma, Bete, o que aconteceu?
B: EU DEIXEI O GÁS LIGADO! MINHA CASA! MINHA CASA VAI EXPLODIR! ADEUS!

Bete sai correndo desesperada enquanto Dodô e Maurício olham a cena ridícula.

Bete pega um táxi, pede ao motorista permissão pra fumar e, durante o caminho, diz:
B: Que cena ridícula...
Taxista: Posso ajudar, dona?
B: Hm, bem... bem... (dá uma boa olhada no taxista) Você quer uma bebida?

quarta-feira, 12 de março de 2008

Passarinho

Minha mãe acabou de me contar um caso que me fez chorar.

Aos que não sabem, meu pai morreu em 1999 (eu tinha 9 anos de idade). Não digo isso porque era meu pai, pois só fui conhecê-lo de verdade depois que ele morreu, mas ele era um homem muito bom, muito digno, e desde criança sempre foi apaixonado com passarinhos. Papai tinha uma vida de cigano, morou em não-sei-quantos lugares (e, por isso, eu vivi muito pouco com ele, pois ele sempre estava morando fora), e sempre gostou de coisas que mamãe não gostava tanto. Exemplos importantes: música sertaneja das antigas (nada de Chitãozinho e Xororó, coisa antiga MESMO) e tomar um golinho de cachaça antes do almoço. Pois foi papai morrer, mamãe começou a ter as mesmas manias (e gostar de futebol, mas isso não é importante aqui agora =p).

Ontem, enquanto eu estava na escola, mamãe tava aqui em casa fazendo o almoço e ouvindo uma rádio daqui de BH que só toca música sertaneja. De 11 ao meio-dia, essa rádio toca só aquelas músicas sertanejas realmente antigas, as que papai gostava, e ontem mamãe ficou ouvindo. Até aí, tudo bem.

Eis que, quando uma música acabou e outra começou, um passarinho pousou na antena do prédio do lado aqui de casa (um prédio baixinho, dá pra ver a antena da janela da cozinha). O passarinho ficou olhando pra dentro da cozinha, observando mesmo, mexendo a cabecinha e tudo. E assoviou umas 3 vezes durante a música. Mamãe foi pra perto da janela e os dois ficaram se olhando enquanto a música tocava. E o passarinho só olhando pra cá. E aí, quando a música terminou, o passarinho foi embora.

Não acho que papai era o passarinho, não acho que a alma dele estava lá dentro, não acho nada disso. Mas, que nem mamãe disse, quando Deus quer se comunicar com a gente, ele coloca anjos na nossa vida: não anjos com asinhas brincando em nuvens, mas pessoas, animais, até mesmo objetos (tipo quando a gente acha O Livro que muda a nossa vida, nosso estado de espírito).

O que eu sei é que tem detalhes maravilhosos lá fora que querem ser vistos, só depende de nós. Então, é. Não de verdade, mas papai era o passarinho.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Dois Amigos

Dois amigos.

Tipo unha e carne, mas não tão grudados assim, acho. Não que "estar junto" significa "ser unido", e não que isso faça muito sentido, mas desde quando a amizade tem lógica? Se conheceram e creio que hoje já não sabem explicar como isso aconteceu, porque amigo tem dessas coisas: a gente conhece e se esquece. Mas a gente lembra do primeiro telefonema, do primeiro abraço-amigo, das (muitas) semelhanças. A gente lembra também da primeira briga; aliás, a gente lembra de todas. A gente lembra de algumas coisas que discordou, lembra também de algumas que concordou, lembra daquelas que não significaram tanto. A gente lembra.

A gente lembra dos planos que cada um fez pro seu próprio futuro,
(...um dia serei astronauta!...)
(...um dia serei rico!...)
A gente lembra das besteiras que queríamos fazer,
(...me passa o telefone que eu ligo, mas se for você eu juro que desligo...)
A gente lembra até da primeira trapaça que fez de brincadeira,
(...a gente sai no 3!...)
A gente lembra de algumas músicas,
(...this little song is about second chances...)
A gente lembra das ajudas mais inesperadas,
(...meu mouse manda lembranças...)
A gente lembra das ajudas mais óbvias também,
(...se fosse eu, ficaria com todas as alternativas antes de me decidir...)
A gente lembra das mesmas manias,
(...peraí que eu tô cheio de gente aqui perto...)
A gente lembra dos conselhos profissionais - ou não,
(...o importante é continuar por você e pra você...)
A gente lembra das loucuras que fomos obrigados a ouvir,
(...que você não quer o melhor pra mim...)
A gente lembra dos conselhos amorosos,
(...se vocês se amam de verdade, conversa com ela!...)
A gente lembra dos apelidos carinhosos,
(...seu bicha!...)
A gente lembra das coisas das quais abrimos mão pra ver o outro bem,
(...deixa pra lá, é melhor assim...)

A gente lembra.

(só não garanto lembrar de todas as risadas, porque tem certas coisas que a gente não enumera, porque sei lá. Não precisa, né? Acabaria com a graça.)

A gente lembra de tantas, tantas coisas que não sabe diferenciar a saudade da insatisfação, a falta da nostalgia. A gente não sabe nem explicar o que é essa dorzinha aqui, no fundo, que pode até incomodar, mas que diz que as coisas um dia se ajeitarão (...encontrando a calma e a cura na própria dor...). E pra terminar com as lembranças, eu prefiro pegar emprestado um verso de uma música muito conhecida, mas que muita gente nunca prestou atenção: Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

Literalmente falando!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

O fim do namoro dentro dos armários de cozinha

Um dos problemas de terminar um namoro é que você não sabe onde o outro termina e você começa. Isso se torna uma verdade indubitável quando um casal mora junto: você não sabe mais diferenciar o que é seu do que é do seu companheiro. E não adianta perguntar também, porque é motivo pra iniciar uma nova briga:


M:
Essas panelas são minhas.
H: De jeito nenhum, eu que comprei.
M: Mas você nem sabe cozinhar!
H: E você sabe?!
M: Eu que cozinhava!
H: É, e fez questão de estragar as minhas pobres panelas com aquela sua comida horrível!
M: Você não reclamava quando eu cozinhava.
H: E eu tinha escolha?!
M: COMEQUIÉ?!
H: Olha, tanto faz agora. Me passa aquela frigideira ali.
M: Nunca.
H: Como não?
M: Eu que comprei aquela frigideira.
H: Eu paguei com meu cartão.
M: Mas quem escolheu fui eu!
H: Mas se eu não tivesse reclamado da falta de batatas fritas aqui em casa, você nunca...
M: (interrompendo) Peraí, o que é aquilo ali brilhando naquela caixa?
H: Aquilo o quê?
M: Aquilo ali, merda! Meio prateado!
H: (tentando esconder com o corpo) Não tô vendo nada prateado aqui...
M: VOCÊ TÁ TENTANDO ROUBAR MEUS TALHERES?!
H: Seus uma vírgula!
M: Pois seus é que não são! São da mamãe.
H: Tá vendo? Você pega as coisas até da sua mãe!
M: Tá me acusando de ladra? Não sou eu quem tá tentando contrabandear os talheres da sogra.
H: E como eu vou comer? Você já tá levando os meus pratos.
M: Aja como o animal que você é e coma feito um cachorro.
H: Incrível como você consegue ficar chiando por causa da louça.
M: Claro, você já tá levando minha coleção de sonetos de Shakespeare.
H: Sua nada, você me deu de aniversário de namoro.
M: Pois é, e não sei pra quê. Você nunca encostou nela.
H: Como eu poderia pensar em poesia enquanto me matava na faculdade de Medicina? Você bem sabe que não foi por falta de interesse...
M: Pois não precisa ter interesse agora que nós terminamos, né? Você nunca sentiu a emoção dos poemas... você não sabia nem diferenciar "A Metamorfose" de "Harry Potter"!
H: Ah, desculpa se eu nunca fui metididinho a "culto" que nem você, tá bom?
M: (pra si mesma) Metididinho a "culto"...
H: E tem outra: eu te escrevi um poema do Shakespeare no nosso aniversário de 5 anos de namoro.
M: NÓS TINHAMOS QUATRO ANOS E ONZE MESES! SEU FILHO DA PUTA!
H: É que eu entreguei adiantado...
M: Incrível como você consegue ser tão insensível! Seu romantismo é menor do que a amplitude de uma colher-de-chá!
H: Mas não era VOCÊ quem dizia que em briga de marido e mulher não se mete a colher?
M: VOCÊ SE ACHA MUITO ENGRAÇADO, NÉ?
H: Só quando eu me alimento bem... o que não vai acontecer com freqüência, já que você tá levando meus pratos. E, de qualquer forma, o importante é que eu escrevi, não é?
M: (irônica) Contar você não sabe, escrever você sabe?
H: Haha, que engraçada. Você sabe que eu escrevi. O problema é que você não lembra.
M: Não lembro, é? Então refresque a minha memória.
H: Eu não, você que devia lembrar. O presente era pra você.
M: Você é incapaz de citar três obras de Shakespeare além de "Romeu e Julieta".
H: Ah, é assim?! Pois eu escrevi aquele "De tudo ao meu amor serei atento"... ei, o que você tá fazendo com os meus talheres? Por que você tá apontando essa faca pra mim?! O que você vai faz...
M: ISSO É VINÍCIUS E A FACA É MINHA!!!!!!!!!!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Pergunta

Depois de uma tarde chuvosa e fria debaixo das cobertas (onde nossas pernas brincavam umas com as outras), depois de tantos risos e de alegria tão surpreendente (ah, quanto tempo esperamos por isso!), depois do nosso clássico joguinho de perguntas, ele mandou:

- E você? Se pudesse escolher um momento nosso pra ser pra sempre, qual seria?

Sorri. Ele sempre gostava de perguntar essas coisas que pedem uma resposta com generalização na cara dura, como "todos os nossos momentos", ou ainda "cada segundo do seu lado". Meio apelativo, eu sempre disse, mas até que era bonitinho. Continuou:

- Sei que todos são bons porque são comigo, mas dessa vez só pode um.

Bobo. Sempre lendo meus pensamentos (até quando eu acho que estou lendo os dele!). Olhei naqueles olhos castanhos, fiz um carinho leve na sua bochecha esquerda, passei a mão nos lençóis. Mordi o lábio inferior e fiquei pensando... qual momento?

Talvez quando nos conhecemos... eu podia jurar que ele tinha me detestado. Ou quando nos encontramos de novo, ambos ansiosos, segurando sorrisos misteriosos (pra quê? A gente sempre soube). Talvez aquele passeio na chuva depois da minha aula? Nossa primeira briga, que valia até como momento bom, só por causa do final. A vez em que deitamos na grama e nomeamos as constelações. Aquela tarde de maio em que ele segurou a minha mão e me chamou de "minha menina linda", mas de um jeito único, diferente. Todas as horas na nossa cama (voadora). Nosso concurso de nomes mais fofamente bregas. Nossas mordidas de leve na orelha. O cheiro de eucalipto do sítio que se misturava com o cheiro do cabelo dele naquelas férias...

Olhei de novo, vi que ele aguardava a resposta com outro sorriso misterioso brincando na boca. Pedi:

- Fecha os olhos.

Me aproximei, colei meus lábios nos dele e comecei a rir. Ele abriu os olhos, curioso (como sempre), e eu disse:

- Qualquer um, porque não faz diferença. Todos os momentos com você são pra sempre, e o sempre é só um momento.

- E depois, o que vem?

- Você de novo.

Ele sorriu, sussurrou um "eu te amo" e me puxou pros seus braços. E eu disse, bem baixinho, que nem meus lençóis puderam ouvir: "eu também. De verdade".

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Menina dos olhos da cor do infinito

Era uma vez, numa terra muito, muito distante, uma bonequinha de pano. Ela era linda: tinha olhos pretos como jabuticabas, cabelos loiros como o ouro e um sorrisinho tímido, enigmático, desses que só bonecas de pano têm. Vivia guardada junto de outros brinquedos de uma família e raramente ia lá pra fora brincar com as crianças, pois tinham medo de sujarem ou rasgarem a bonequinha de pano. O que ninguém sabia é que essa bonequinha de pano também queria brincar, sair, se divertir. Pois a bonequinha também tinha um coração, não desses corações humanos (que são grandes, vermelhos e cheios de sangue!), mas um coraçãozinho de pano que sentia tudo ao seu redor. E dentro de seu coração existia uma pergunta: se ela era tão linda, se todos gostavam tanto dela, por que ela vivia trancada com os outros brinquedos? Afinal, ela queria sair, ver esse mundão com seus grandes olhos, sentir a brisa na pele, deixar o vento balançar seus cabelos... e, acima de tudo, queria conhecer pessoas, pois o coração da bonequinha era muito grande e cheio de carinho e amor.

Alguns poucos anos se passaram e estourou uma guerra na região onde a família (dona da bonequinha de pano) morava. Tiveram que fugir o mais rápido possível, pois homens cruéis e sem um pingo de amor no coração queriam dominar as terras - e não mediriam esforços para conseguir seu objetivo. Assim, a família empacotou as coisas mais importantes e valiosas da casa e foi embora, não se sabe exatamente para onde, mas simplesmente foi. E a família andou, e andou, e andou... passou por montanhas, planaltos, rios, florestas, sempre encontrando outras famílias que fugiam também. Ouvia notícias: as coisas não estavam boas. Os homens cruéis avançavam pelas terras cada vez mais rápido, logo alcançariam as boas pessoas se elas não tratassem de correr.

Eis que, uma noite, os familiares se esconderam numa floresta densa e escura, achando que seria um excelente esconderijo, pois ouviram rumores de que os homens estavam próximos. E, nessa floresta, a família esperou a noite passar... até que ouviram gritos, correria: alguma coisa acontecia lá perto. E essa "alguma coisa" era justamente o que mais temiam: os homens chegaram! A família, em pânico, saiu correndo pela floresta, com medo de acontecer-lhes o pior. Mas a bonequinha de pano se soltou da mão de uma das crianças, que não pode retornar para pegar a boneca, e então ficou deitada no chão da floresta, olhando para o topo das árvores escuras.

Tempo se passou e a família não voltou. A bonequinha de pano havia se acostumado a ficar "sozinha" (afinal, em casa, tinha os outros brinquedos como companhia), mas nunca havia se sentido tão só. Teve medo e chorou. Mas o que a bonequinha não sabia é que ela não estava só: havia um reino encantado na floresta, e esse reino vivia dentro das árvores: a floresta era seu mundo. Assim, uma fada ouviu o choro da bonequinha (pois bonequinhas também choram e também riem, mas os humanos são frios demais para poderem perceber) e resolveu ajudá-la.

- Bonequinha, por que chora tanto?
- É que... minha família me esqueceu na floresta, e acho que não vai mais voltar.
- E você não pode procurá-los?
- Não, não posso... sou só uma boneca de pano. Não sou como os homens, que podem sair por aí conquistando o mundo, e não sou como as crianças, que podem correr livres. Não sou como as mulheres, que podem entregar seus corações aos homens tão valentes, e não sou como os velhos, que contam casos de infância. Sou só uma boneca de pano, e para sempre boneca de pano eu serei.
- Bonequinha, você fala como se não gostasse de ser o que é!
- Não é bem isso... gosto de ser boneca, gosto desse vestido, gosto dos brinquedos que são meus amigos. Mas nunca pude conhecer o que havia lá fora e, agora que conheço, não sei bem se gosto. - E há algum motivo para não gostar?

A bonequinha, então, contou pacientemente toda a história que conhecia, até chegar onde estava. A fada ouviu atentamente e, por fim, disse:

- Ainda não vejo motivo para não gostar do mundo. É certo que há muito tempo alguns valores se perderam, mas ainda há esperança.
- Mas bonecas não podem sentir esperança.
- Claro que podem! Por que não poderiam?
- Porque a esperança é uma ilusão, não é? Todos os brinquedos são criados devido à vontade de animarem crianças, serem seus companheiros. Só nos é dado o direito de divertí-las. Entenda, dona fada, não é que eu não gosto disso: eu gosto de verdade. Mas brinquedos não têm sentimentos... brinquedos não são reais, pelo menos não tão reais como um ser humano.
- E o que você está me dizendo não é sentimento, bonequinha?
- Bem...
- Bonequinha, você tem desejos, sonhos, pensamentos, não têm?
- É; de fato, tenho sim.
- Então o que te torna menos real do que um homem?

Nesse momento, a bonequinha voltou a chorar, mas sem saber o porquê. A fadinha ficou indecisa, esperou um pouco, pensou e pensou e então voltou a dizer:

- Eu lhe disse, boneca, que alguns valores se perderam no mundo dos homens. Nesse mundo enorme podemos conhecer gente muito boa, gente muito ruim, até gente que daria tudo para ser uma bonequinha de pano, quem sabe... pelo menos para fazer esse mundo feliz. É fato: seu cérebro não trabalha como o dos homens; no entanto, você pensa como um ser humano. Sua pele não sente dor ou prazer como a dos homens; no entanto, você é capaz de sentir um toque puro e sincero. Seu coração não pulsa como o dos homens; no entanto, você é capaz de amar, sentir medo e desejar. Você é uma bonequinha muito especial.
- Mas sou como todas as outras bonecas, dona fada.
- E você queria ser diferente?
- Sim; eu queria poder conhecer o mundo dos homens de verdade. Mas isso é impossível.
- Fadas não conhecem essa palavra!

Nisso, a fada prometeu à bonequinha que seria capaz de torná-la humana se ela conservasse o seu coração tão puro. A boneca ficou muito animada e prometeu que seria capaz, que daria o melhor de si. Então, num passe de mágica, a fada transformou a bonequinha numa garota de verdade, vestiu a menina com roupas muito bonitas e penteou seus cabelos loiros. Levou a menina até um lago lá perto e pediu que ela olhasse seu reflexo. A bonequinha exclamou:

- Fada, eu sou uma menina! Sou uma menina de verdade!
- Sim, agora você é uma humana, cara bonequinha, mas com coração de boneca.
- Mas dona fada... tem algo errado... meus olhos.
- O que há de errado com seus olhos, mocinha? - riu a fada.
- Bem, meus olhos eram pretos, e agora... estão claros. Estão azuis, dona fada.
- Sim, eu sei.
- Por quê?
- Porque você tem um coração puro, tem cabelos da cor do ouro, tem uma pele macia e tem um sorriso sincero, bonequinha. Mas há muitas pessoas assim no mundo. Somos todos iguais, porém somos todos diferentes ao mesmo tempo.
- Mas isso é possível? - interrompeu a bonequinha.
- Sim, é possível: é algo que você entenderá aos poucos. Então resolvi te entregar esses olhos azuis, bonequinha, para que você seja diferente dos outros.
- Diferente, mas igual - a boneca falou baixinho.
- Exatamente! - a fada sorriu. - No mundo dos homens, dizem que é possível ver os sentimentos e as vontades mais sinceras de uma pessoa ao encará-la, sabia? Porque, olhando nos olhos de alguém, você pode enxergar a alma dessa pessoa... se ela for pura. Então, bonequinha, agora que você é humana, vai precisar manter a sua palavra: conservar o seu coração puro. E correrá o mundo, como você tanto deseja, procurando apresentar o amor e o carinho àqueles que têm o coração corroído pelo abandono, pela tristeza, pela dor.
- Farei isso, dona fada, farei isso! Mas... por que escolheu a cor azul, dona fada?
- Porque é a cor do infinito, bonequinha. É a cor do céu, e o céu não cabe em lugar algum (a não ser nele mesmo), não há como medí-lo, não há como destruí-lo, não há como não existir e como sumir, pois ele é infinito.
- Então meus olhos são da cor do infinito?
- Exatamente. E você sabe o que mais é infinito nesse mundo, cara bonequinha?
- Não... o quê?
- O amor.

Assim, fada e boneca se despediram, mas não com uma despedida triste, e sim sincera. Um dia iriam se ver de novo, não importava como nem quando e nem onde, mas iriam se ver. E não se sabe direito o que aconteceu com a bonequinha: sabe-se apenas que ela cumpriu sua promessa, pois nada no mundo inteiro foi capaz de lhe fazer mais feliz do que olhar para o céu e enxergar seu próprio olhar, sempre tão carregado de amor.

Também não se sabe se essa história é verdadeira ou não: há alguns que não acreditam no que a mente humana é capaz de inventar, há outros que não acreditam numa boa história fantástica, há mais alguns que acreditam em fantasia. Como somos capazes de medir a verdade nas palavras, nos contos, nas histórias? Eu não sei, creio que ninguém saberá... o importante é que, bem, há alguns anos, eu conheci uma menininha doce, com sorriso meio tímido, com cabelos loiros da cor do ouro e com os olhos mais lindos que já vi.

Se essa menina é a tal bonequinha? Bem... acho que sim, acho que não. Só sei que a fada estava certa: o infinito é sempre azul, e o amor é infinito. A cor dos olhos da Carolzinha também.



Feliz aniversário, Carolzinha!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Carta

Ó meu grande amor,
trago notícias desse mundo rápido:
as pessoas andam enlouquecendo,
e isso não me surpreende mais.
Amor,
os atos e as palavras estão imundos,
os sentimentos foram esquecidos.
O vento já não me traz mais o seu riso.
Infelizmente,
decretaram que as memórias e lembranças...
(aquelas tão doces e delicadas)
...nada mais eram do que água debaixo da ponte.
Não, meu grande amor,
nossas alegrias antigas não são mais,
também não estão mais;
pertencem a algo ou alguém que as pessoas chamam de Passado.
E eu não consegui chamá-lo,
esse tal de Passado,
pra explicar que as lembranças não passam,
não.

Ó meu grande amor,
hoje os pássaros não voaram,
o céu mais se fechou do que se abriu,
o vento não levantou as cortinas,
não ouvi a ciranda das crianças,
o rio não pareceu correr,
espírito jovem aparenta estar preso,
mas a minha dor se perdeu por aí.

Mas ó, meu grande amor,
essa carta não seria minha
se não te escrevesse um singelo sorriso:
hoje as flores passearam comigo
e a nossa flor roxa
me contou que ainda há esperança.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Chorando a morte da bezerra

O TRISTE ADEUS À MIMOSA
Amigos se reúnem para prestar uma última homenagem à bezerra

Belo Horizonte, MG - Na noite da última sexta-feira (11 de janeiro), amigos da bezerra Mimosa se reuniram na Fazenda do Tio Garcia para prestar uma última homenagem à vaquinha enjeitada. Mimosa, com alguns poucos meses de vida, vinha travando uma luta contra sua mãe Giselda, que a abandonou assim que deu à luz. A bezerra vinha enfrentando a falta do leite materno, sendo este substituído por leite de outras vacas (serviço feito pelo dono da fazenda, o senhor Raphael Garcia). Mimosa havia entrado em profunda depressão, recusando-se a continuar tomando o leite que não era materno, ocasionando assim a sua morte.

O funeral de Mimosa ocorreu na noite de sexta e foi acompanhado por muitos simpatizantes, conhecidos e amigos da bezerra, como Seu Galo Zé (que cantou um "Cocoricó" em sua homenagem) e o próprio dono da fazenda, sr. Garcia. Houve muitas lágrimas silenciosas durante o funeral, além de muitas recordações e lembranças que os participantes traziam de Mimosa. "Lembro-me como se fosse ontem de quando retirei Mimosa de sua mãe, voou sangue para todo lado", afirma o vaqueiro Batata. "Minha mãe sempre costumava oferecer seu leite para Mimi, não sabíamos que isso a deixava mal. Mas não adianta chorar o leite derramado", disse entre lágrimas a bezerra Xislene.

Procuramos Giselda para maiores informações, mas a vaca não quis dar entrevistas.

sábado, 5 de janeiro de 2008

O Dia do Curinga

(retirando mais velharias)








DAMA DE OUROS
...então o pequeno clown não se conteve e desandou a chorar...

(...)

Alguma coisa fez com que os anões prestassem atenção nas suas palavras sem dar um pio. Talvez porque, apesar de tudo, eles sempre tivessem vivido intrigados com a questão de saber por que o Curinga era diferente de todos.
— Minha casa é em lugar nenhum — prosseguiu ele. — Não sou de copas, nem de ouros, nem de paus, nem de espadas. Também não sou rei ou valete, nem oito, nem ás. Aqui estou eu, um simples curinga. Toda vez que eu mexo a cabeça, meus guizos tilintam e me lembram de que não tenho família, de que sou sozinho. Não tenho um número nem ofício. Não domino a arte de soprar vidro dos anões de ouros, nem a arte da panificação dos anões de copas; a mim me faltam as mãos habilidosas para lidar com a terra, como a dos anões de paus, e também a força muscular dos anões de espadas. Assim, tudo o que sempre fiz foi andar por aí observando tudo o que os outros faziam. Em contrapartida, pude ver um monte de coisas para as quais todos os outros sempre foram cegos.
Enquanto falava, o Curinga mexia o pezinho da perna cruzada e seus guizos tilintavam bem baixinho a cada movimento.
— Toda manhã vocês se levantavam e saíam para o trabalho. Na verdade, porém, vocês nunca estiveram de fato acordados. Pode ser que vocês tenham visto o sol, a lua e as estrelas no céu, e também tudo o que existe e se move sobre a terra... mas vocês nunca viram todas essas coisas como elas realmente são. No caso do curinga é diferente, pois ele veio ao mundo com o defeito de ver coisas demais e de ver todas elas em profundidade!
— Então desembucha de uma vez, seu idiota! — interrompeu-o a Dama de Ouros. — Se você viu alguma coisa que nós não vimos, vá dizendo logo o que é!
Eu vi a mim mesmo! — exclamou o Curinga. — Eu vi a mim mesmo errando por um imenso jardim cheio de arbustos e árvores.
— Você consegue ver a si mesmo do alto? — deixou escapar Dois de Copas. — Será mesmo que os seus olhos têm asas como os pássaros?
— No fundo eles têm, sim. Pois não basta ficar se olhando o tempo todo num pequeno espelho, como as quatro damas aqui do povoado gostam tanto de fazer. Elas estão tão preocupadas com a sua aparência que não se dão conta de que vivem.
— Jamais ouvi tamanho atrevimento — comentou a Dama de Ouros, indignada. — Por quanto tempo esse louco vai poder continuar falando essas asneiras?
— A questão é que eu não apenas vejo todas essas coisas — prosseguiu o Curinga. — Eu também as sinto. Sinto que sou... bem, que sou uma criatura vi... uma criatura viva... uma criatura muito estranha, com pele, cabelos e tudo... uma marionete viva... robusto como um boneco de borracha. "Mas de onde veio este homem de borracha?", eu me pergunto.
— Vamos deixar que ele continue falando essas coisas? — quis saber o Rei de Espadas.
O Rei de Copas fez que sim com a cabeça.❞



"O Dia do Curinga", de Jostein Gaarder.

Vingança de Merda

Esse texto aqui é um que escrevi há muito tempo e coloquei no meu antigo blog. Olhando de volta pra ele, senti saudade e resolvi postá-lo. :~

LISTA: VINGANÇA DE MERDA
Como se vingar de alguém envolvendo as suas fezes no ato

1. Se você quer se vingar dos seus pais, cague no tapete da sala e durma no sofá com a porta de entrada aberta. Alegue que resolveu fazer o bem, trazendo um vira-lata pra casa, e que não é culpa sua de ele ter mandado o fax logo no tapete persa que a sua mãe tanto estima.

2. Para se vingar de um amigo que estragou alguma coisa sua emprestada, peça algo dele emprestado e cague em cima. Escreva um pedido de desculpa com a própria bosta. Acaba tendo um quê de simplicidade.

3. Quer se vingar da namorada? Cague nas roupas dela. Ou nos sapatos, bem lá no fundo, geralmente onde os dedos do pé ficam. Pode cagar na maquiagem também. De fato, você pode cagar em diversos lugares, que vão do "manche a bunda do jeans dela" até o "tire o enchimento dos ursinhos de pelúcia e coloque cocô no lugar". Mas só faça isso se tiver MUITOS bons motivos.

4. Quer se vingar do namorado? Cague na coleção futebolística dele ou em qualquer coisa de que ele gosta muito e que "eleve" o nível de machismo dele. O ego inflado dos homens não admite merdas acontecerem.

5. Quer se vingar do professor de artes? Espere o próximo trabalho e faça uma capa bastante artística e original, jogando cocô na folha e soprando com canudinho. ATENÇÃO: ISSO SÓ FUNCIONA COM COCÔ-ÁGUA. Você pode optar por fazer desenhos rústicos com o dedo na bosta. Chique.

6. Como se vingar do assaltante: cague de medo (hueheueheue). Não vai salvar a sua vida, mas pegar uma carteira cheia de merda deve ser horrível...

7. Para se vingar da faxineira da sua casa, cague aquela água barrenta cheia de pedacinhos moles de fezes e NÃO DÊ DESCARGA. Você pode escolher entre deixar a tampa aberta e esperar o cheiro de espalhar, ou pode deixar a tampa fechada pra ter uma dupla surpresa: o cheiro nauseante e a visão do Piscinão de Ramos.

8. Quanto aos vizinhos pirralhos que sempre te acordam com gritos, cague em formato de bolinhas de gude e comece o tiro-ao-alvo-móvel. Se preferir, pode cagar mole e pegar um montante, como se fosse uma guerra de lama. A exceção é que eles provavelmente não vão fazer o mesmo.

9. Para se vingar dos seus avós, cague um pouco antes de eles acordarem e unte suas dentaduras com cocô tipo uma massa. Vai demorar SÉCULOS pra eles tirarem aquele gosto da boca, ainda mais da dentadura.

10: VINGANÇA MASTER :: A Vingança Master requer muita força de vontade e preparo físico. Em primeiro lugar, vá para um desses postos de estradas onde só dá caminhoneiro fedido e mal-encarado. Peça a refeição da casa, que geralmente consiste em alimentos mui gordurosos (FRITURAS, YEAH!), ovo, feijão carioca (é aquele marrom), couve e repolho, entre muitas outras gostosuras. Vá até um quarto escuro, que é o local em que o indivíduo será preso, e cague até dizer "TIRA ESSE SUBMARINO LÍQUIDO DE MIM, RICARDÃO" e depois cague mais um pouco. Se você tiver condicionamento e já tiver treinado antes, talvez consiga escolher se a bosta sai mole, dura, bolinha de gude, lama, pasta, água, etc. Espalhe a bosta-lama pelo chão e pelas paredes. A pasta também é uma boa opção, levando em conta que tem maior consistência. Prepare uma tigela com a bosta-água para quando a vítima sentir sede e prepare a bosta-bolinha-de-gude como pequenos petiscos, tipo ração de cachorro, para quando ela sentir fome. Leve o cidadão até o local, prenda-o e peide em seu rosto. Sim, peide em seu rosto, coloque seu orifício anal na região nasal do ser humano e PEIDE COM VONTADE, sinta o vento escapando do seu cu, dê um urra de alívio, peide mais um pouco. Tire as roupas do fulano e deixe-o usando apenas as roupas íntimas. Coloque merda nelas. Você pode escolher entre a merda mole (fica grudento) ou a merda dura (incomoda e dá medo de sentar de verdade, pra não virar mole). Espere que ele(a) beba e coma, deite e role na merda, feito um porquinho se refestelando no chiqueiro, e depois liberte-o e CORRA. ATENÇÃO: a Vingança Master (VM) NÃO INCLUI a morte da pessoa. Não use instrumentos cortantes, pontiagudos nem armas de fogo. Use bosta. A VM necessita de muita força de vontade, você precisa treinar sempre. E só faça se tiver realmente certeza do que está fazendo, afinal, as chances de você fazer merda são grandes.