terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Direto e abstrato

— Você fala cheio de rodeios, nunca é direto. Parece que tem medo que te conheçam de verdade...
— Eu sei.
— Mas não faz sentido. É quase como usar uma máscara, mas pra quê? Você é sempre tão... sabe, tão enigmático.
— Sim.
— Eu te vejo como se você quisesse que te desvendassem. Mas parece que, se alguém chega perto disso, de te descobrir de verdade, você não gosta.
— É...
— E você é sempre direto nas suas perguntas, mas quando vai responder alguma coisa, você nunca é exato. Você é sempre tão abstrato.
— Sim.
— Mas agora você não está sendo. Por quê?
— Por que você diz isso?
— Porque você tem respondido só "sim"...
— E você acha que não tem nada de enigmático e abstrato num único sim?
— Bem... não. É uma resposta direta, exata.
— Nunca é. Cabe um mundo inteiro dentro de cada mínima palavra, e o "sim" e o "não" têm mais significados do que você pensa. E, dependendo da pessoa, há muito menos num "sim" e muito mais num "não".
— ...você sabe que eu te acho muito estranho, né?
— Sim.

3 comentários:

borges disse...

tá. Me dão um gosto estranho, seus diálogos.
Será que todo mundo se vê, ali dentro?

Gabriella disse...

Hahahah acho que sim! Não é a primeira vez que falam isso comigo. Acho que às vezes a gente se encontra escondido num diálogo escrito, um diálogo que a gente não conseguiu fazer ao vivo.

borges disse...

lembro que tive medo qdo li esse negócio da primeira vez. Eu realmente me vi, e ainda me vejo nisso, bizarro.