“ — Venha cá, Betty. Você se lembra de Padre Justino? Quando minha mãe era viva, ele vinha à Chácara com freqüência.
— Lembro-me perfeitamente, Sr. Timóteo — e admirei-me que tivesse mudado tão bruscamente de tom, e que, deixando o ar frívolo e zombeteiro, voltasse a adquirir o aspecto grave e reservado que eu habitualmente lhe conhecia.
— Padre Justino — continuou ele — costumava às vezes dizer umas verdades. Nada de muito sério, que padre da roça não sabe coisa alguma. Assim mesmo, um dia...
Hesitou um minuto, como se procurasse no pensamento a expressão exata, e concluiu:
— Um dia, no jardim, disse-me que o pecado é quase sempre uma coisa ínfima, um grão de areia, um nada - mas que pode destruir a alma inteira. Ah, Betty, a alma é uma coisa forte, uma força que não se vê, indestrutível. Se uma minúscula parcela de pecado - um nada, um sonho, um desejo mau - pode destruí-la, que não fará uma dose maciça de veneno, uma culpa instilada gota a gota no coração que se quer destruir?”
Diário de Betty (II);
Crônica da Casa Assassinada - Lúcio Cardoso.
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