“ 15 — Era evidente que eu não a esperava mais, julgando que ela tinha esquecido sua promessa. Esquecera, não havia dúvida possível, repetia eu comigo mesmo, uma, duas, inúmeras vezes, e aquilo, à força de ser repetido e mastigado como uma humilhação que não se deseja esquecer, tornava-me pálido de raiva. Ah, ela havia-me enganado, escarnecera da minha esperança, dos meus sentimentos, da minha amizade, de tudo enfim — e o mais doloroso é que não havia necessidade daquilo. (...) Agora era impossível não reconhecer que ela me tratava simplesmente como uma criança. Seu próprio movimento, que antes me parecera revelador de tão inequívoca simpatia, desnudava-se aos meus olhos como um gesto vulgar e sem intenção. (No entanto, era fácil constatar que ela transfigurava tudo, desde uma simples risada até ao olhar mais distante e fugidio....) Esse gesto, quantas vezes eu o revivera em pensamento, o coração batendo como o de um colegial! As horas deslizavam, eu permanecia sentado em minha cama, olhos abertos na obscuridade. (...) Que são os fatos de que nos lembramos, senão a consciência de uma fugitiva luz pairando oculta sobre a verdade das coisas?”
Diário de André (II);
Crônica da Casa Assassinada - Lúcio Cardoso.
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2 comentários:
Olá Gabi, aqui é o chato do Douglas. Também li esse ano o livro Crônicas da Casa Assassinada, quando pretendia fazer o vestibular da UFMG. Surpreendir-me com o conteúdo, encantadoramenete fascinante. No começo fique reticente pela capa, e pelo tamanho das páginas. Mas foi so eu ler os primeiros capítuloas para me apaixornar.
>>> Adoro ler o que você escreve. Se por acaso sua carreira de médica não decolar poderia tentar escrever artigos em revistas científicas.
wtf??aejopaij
sorry mini, can't help...aehioauhou
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